Declaro-me escrava da palavra crua
Das noites que perco em conversas caladas
Do tecto vazio qual tela sem cor
Paredes vazias de nada pintadas.
Declaro-me viva, mulher em tormento
E que vou morrendo desde que nasci
Nos dias que vivo não tenho alento
Da busca incessante, da estrada sem fim.
Declaro ainda que vibro em silêncio
Nas preces que lanço ao céu que me cobre
Nas nuvens e ventos que pedem clareza
Eu lanço o pedido, sou louca e carente.
Declaro-me livre das horas vazias
Tão cheio é o meu dia que as horas me escapam
Sou livre na jaula das regras que ditam
Que eu não sou livre, que eu não estou viva
...
Declaro-me escrava
Pelo Amor liberta
Sou página escrita
Num livro fechado
Sou morte, sou vida
Sou estrada banida
Onde a poeira
É canto à vida
E quando pensarem
Que me dou vencida
Atentai! reparem!
Minha mão erguida!
Maria do Vento (Heterónimo)
Ventos Sábios - Ruth Collaço®
Ilha do Pico - Açores Julho 2024
Ruth Collaço, a autora desta prosa poética.