Fazer a árvore de Natal, pode ser um ato banal, que obedece a todas as regras pagãs e cristãs, fazer uma árvore de Natal já não é o que era. Cada enfeite traz uma memória, um momento, uma pessoa, família, primos....
Como eram lindos os natais.
De sermos tantos, na sala da Tia Lena montavam-se autênticos acampamentos. Afastavam-se as mobílias e faziam-se camas no chão para aproveitarmos cada minuto juntos.
Primos e primas, éramos irmãos.
Enquanto as gargalhadas e brincadeiras às escondidas (assim o pensávamos) aconteciam, na cozinha as nossas mães bebiam café e ultimavam os preparativos para o dia seguinte.
Aquelas vozes meigas chegavam-nos da cozinha deixando escapar, uma outra prenda.
Os homens, os tios, nas noites quentes de um Natal africano, tocavam viola e bebiam a cuca....
"E os miúdos que nunca mais adormecem…".
Finalmente cedíamos ao cansaço, e os risos davam lugar a um respirar fundo, em que cada um de nós inspirava amor e com o expirar libertava sonhos....
Mal sabíamos nós que a guerra espreitava.
Que a fogueira que os velhos faziam para a despedida do velho ano, seria a última em conjunto.
Mas aqueles momentos "tesouro" em tudo parecia infinito estavam prestes a acabar como o conhecíamos, pois, a guerra já espreitava e nós felizes, vivíamos a leste do que viria. ...
Naquela noite dormi de mão dada com um dos meus primos, não lembro qual, éramos todos do mesmo sangue, da mesma alegria e da mesma terra.
No dia seguinte... foi Natal.
Pequena homenagem aos meus pais, tios e primos.
Meu Deus, que abençoada que fui, que grata que sou e que saudade que sinto.
Ruth Collaço (pela Uta)
(Natal 1974. Angola)
(Seja este Natal um de partilha e amor. Tolerância nas diferenças e aceitação do que nos é dado, sem que deixemos passar a oportunidade de agradecer e retribuir. Não o que recebemos, mas o que gostaríamos de receber.)
Ruth Colaço, a Autora do Texto