22 Dec
22Dec

Fazer a árvore de Natal, pode ser um ato banal, que obedece a todas as regras pagãs e cristãs, fazer uma árvore de Natal já não é o que era. Cada enfeite traz uma memória, um momento, uma pessoa, família, primos....

Como eram lindos os natais.  

De sermos tantos, na sala da Tia Lena montavam-se autênticos acampamentos. Afastavam-se as mobílias e faziam-se camas no chão para aproveitarmos cada minuto juntos. 

Primos e primas, éramos irmãos.  

Enquanto as gargalhadas e brincadeiras às escondidas (assim o pensávamos) aconteciam, na cozinha as nossas mães bebiam café e ultimavam os preparativos para o dia seguinte. 

Aquelas vozes meigas chegavam-nos da cozinha deixando escapar, uma outra prenda. 

Os homens, os tios, nas noites quentes de um Natal africano, tocavam viola e bebiam a cuca.... 

"E os miúdos que nunca mais adormecem…". 

Finalmente cedíamos ao cansaço, e os risos davam lugar a um respirar fundo, em que cada um de nós inspirava amor e com o expirar libertava sonhos.... 

Mal sabíamos nós que a guerra espreitava. 

Que a fogueira que os velhos faziam para a despedida do velho ano, seria a última em conjunto. 

Mas aqueles momentos "tesouro" em tudo parecia infinito estavam prestes a acabar como o conhecíamos, pois, a guerra já espreitava e nós felizes, vivíamos a leste do que viria. ... 

Naquela noite dormi de mão dada com um dos meus primos, não lembro qual, éramos todos do mesmo sangue, da mesma alegria e da mesma terra. 

No dia seguinte... foi Natal. 

Pequena homenagem aos meus pais, tios e primos.

Meu Deus, que abençoada que fui, que grata que sou e que saudade que sinto. 

Ruth Collaço (pela Uta) 

(Natal 1974. Angola)

(Seja este Natal um de partilha e amor. Tolerância nas diferenças e aceitação do que nos é dado, sem que deixemos passar a oportunidade de agradecer e retribuir. Não o que recebemos, mas o que gostaríamos de receber.)


Ruth Colaço, a Autora do Texto

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