O mundo não conta voltas em números, mas em espirais de silêncio e canto.
Cada rotação é um rito invisível, uma oferenda ao tempo que nos atravessa.
A felicidade não se mede pelo compasso dos astros, mas pelo instante em que o giro da Terra coincide com o giro da alma.
É quando o exílio se transmuta em raiz, quando a memória se abre como portal e o corpo se reconhece templo.
O planeta gira, incansável, e nós giramos dentro dele — não como passageiros, mas como sacerdotes de uma liturgia secreta.
A cada volta, o sol acende em nós uma chama, e a noite recolhe os restos do que já não serve.
A felicidade é essa alquimia:
O encontro entre o movimento cósmico e o movimento íntimo, entre o círculo que nunca se fecha e a espiral que sempre se expande.
Assim, não é o mundo que precisa dar voltas para que haja felicidade.
Somos nós que precisamos aprender a girar com ele, a aceitar o ritmo da sua dança, a transformar cada retorno em revelação.
Porque a felicidade é o instante em que percebemos que não há fim nem começo, apenas o eterno movimento — e nele, o nosso coração pulsa como centro

Ruth Collaço, a autora do texto