01 Jun
01Jun

(Cantado numa rua da baixa da cidade)

Fotografia de João Gomez Photography do Livro "Pé de Carvão Poemas na Palma da Mão de Ruth Collaço"


Ai! Eu sou pedra da calçada 

Não caiba em nenhum lugar 

Rebolo aos pés das crianças 

E eu cruzo ou teu caminhar 

De mim você quer esquivar 

Em mim não quero tropeçar 

Mas ainda o consegue 

Para mim você tem que olhar 

Pois mesmo o homem altivo 

Ou qualquer senhora de classe 

Não quer p'ra olhar baixo 

O certo é ter que tombar.

O chão desta vida é incerto 

Cada pé tem o seu lugar 

Aqui no chão eu não tropeço 

Tão pouco me vou deixar ficar 


Por isso meu caro amigo 

Cuidado se fores um calhau 

Que calçada de pedra não quebra 

Não vás tu virar cascalho 

S'nas pedras não querem tropeçar 

Em ti não quero resvalar



Que pedra que vive do pouco 

É leve e tem a liberdade 

Já o calhau que é pesado 

Só tropeça na sua vaidade.


Pé de Carvão 

(Heterônimo)

Ruth Colaço, a autora do poema

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