(Cantado numa rua da baixa da cidade)
Fotografia de João Gomez Photography do Livro "Pé de Carvão Poemas na Palma da Mão de Ruth Collaço"
Ai! Eu sou pedra da calçada
Não caiba em nenhum lugar
Rebolo aos pés das crianças
E eu cruzo ou teu caminhar
De mim você quer esquivar
Em mim não quero tropeçar
Mas ainda o consegue
Para mim você tem que olhar
Pois mesmo o homem altivo
Ou qualquer senhora de classe
Não quer p'ra olhar baixo
O certo é ter que tombar.
O chão desta vida é incerto
Cada pé tem o seu lugar
Aqui no chão eu não tropeço
Tão pouco me vou deixar ficar
Por isso meu caro amigo
Cuidado se fores um calhau
Que calçada de pedra não quebra
Não vás tu virar cascalho
S'nas pedras não querem tropeçar
Em ti não quero resvalar
Que pedra que vive do pouco
É leve e tem a liberdade
Já o calhau que é pesado
Só tropeça na sua vaidade.
Pé de Carvão
(Heterônimo)
Ruth Colaço, a autora do poema