31 Mar
31Mar

Os anos passam, e por mais que eu diga que já não ligo a muitos feriados e festividades, há momentos dentro de cada momento que não se esquecem, não se apagam.  Ainda bem que assim o é… 

São momentos que nos levam de volta à criança que deixámos ficar lá atrás, sozinha de braços caídos numa estrada empoeirada, que com olhos sem cerrados nos olha no abandono que subtilmente lhe inunda o peito. 

"A bênção padrinho, a bênção madrinha?!"   

Maria Helena Collaço Flora (Tia Lena)

E sorria enquanto lhes o oferecia o raminho de Páscoa…

Já as loucas "gustativas" andavam a festejar sabendo que logo logo chegariam os chocolates, os primos, os tios, os avós, e as cores das amêndoas… eram tão lindas na sua cor pastel...  para mim sempre as cor de rosa. As amarelas não tinhas graça, as azuis eram para os primos (e eram mais que as amêndoas, em número e em alegria), as brancas ficavam para os primos mais novinhos… e aceitavam. Que remedio… 

"A bênção padrinho, a bênção madrinha?!" 

Rogério Flora (Tio Jito)

Ainda me oiço a dizer, e não foi assim há tanto tempo que disse, pela última vez.

 A vida ditou que eu tivesse dois de cada. 

Duas madrinhas e dois padrinhos.    

Crescer em Africa tem destas coisas! 

E que saudade de ouvir da boca do Luís "eu vou c´a minha padinha!", fazia a mala, e queria sempre vir embora com a tia Cacy, e a minha mãe ficava com lágrimas nos olhos por não o poder levar. 

Eramos tantos afilhados, padrinhos, madrinhas. Havia que chegasse para todos, vejam lá que para mim até dobrou. 

Podem não estar aqui, mas continuo a pedir    

"A bênção padrinho, a bênção madrinha?!".  

A bênção Padrinho, a bênção Madrinha!" (Da direita para a esquerda) Tia Lena, eu, Tio Jito - Lubango Angola 2010


Não há pascoa que não me lembre do colo do padrinho, da voz quente e grave "Anda cá ao colo do padrinho...", da voz da minha madrinha, mulher guerreira sempre com muito que fazer, sem que nunca me faltasse um mimo, uma gargalhada solta..... foi essa a sua bênção para mim, a bênção gargalhada que é tão nossa e tão cúmplice.

E abraço-vos, primos, primas, tios, tias, padrinhos, madrinhas. Abraço-vos na luz que a pascoa (dizem que ) tem. Abraço-vos... e não vos consigo largar.

Em memória dos meus dois Padrinhos Rogério Flora (Tio Jito) e José Carlos Cabral (tio Zé).

Em homenagem à minha Madrinhas Maria Helena Flora (Tia lena) e Maria Odilia Cabral (Tia Dila)

Aos meus pais, pela família que me deram e pelos padrinhos que escolheram.

"A bênção padrinho, a bênção madrinha?!"


Ruth Colaço:  Autora do Texto

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