Há um murmúrio antigo que vive em mim.
Um chamamento suave, mas firme, que já não consigo ignorar.
É como se algo sagrado, vindo do centro do meu peito
— talvez do templo secreto do meu chakra cardíaco
— batesse à porta do meu coração com a urgência de quem espera há eras por ser reconhecido.
Essa presença, esse Eu profundo, pede-me escuta. Não com os ouvidos do mundo, mas com a alma nua, despida de máscaras.
Sinto que há uma voz em mim que quer nascer.
Quantas vezes tentei ser ouvida e o esforço parecia desmedido?
Como se cada palavra exigisse uma travessia no deserto.
Às vezes, falar dói.
Mas cantar… cantar é diferente.
Já experimentei?
Talvez não com melodia, mas com vibração.
O canto da alma não precisa de palco
— apenas da coragem de se abrir.
O meu bem-estar não depende de fórmulas externas. Depende da minha vontade de olhar de frente os meus medos, um por um, como quem faz um inventário sagrado.
Sei que é tarefa dantesca. Encarar os monstros internos exige mais bravura do que enfrentar o mundo. Para mim, que tantas vezes “engoli um boi” sem pestanejar, mas tropecei num mosquito de emoção, compreender os meus sentimentos é uma travessia lunar — feita de fases, de sombras e de luz.
Mas é aí que reside a alquimia.
No subtil.
No chakra da garganta que implora expressão, no plexo solar que pede ação alinhada, na raiz que deseja segurança sem prisão.
E acima de tudo, na minha ligação ao Eu — esse centro luminoso que me habita — e ao EU SOU, a Centelha Divina que me recorda que sou mais do que carne e pensamento.
Sou energia em movimento, sou propósito em expansão, sou mulher em renascimento.
Dentro de mim pulsa o sagrado feminino — não como conceito, mas como força viva.
Ele dança nos meus silêncios, nas minhas águas internas, nas minhas escolhas.
E lembra-me que não preciso anular ninguém para ser fiel ao meu caminho. Basta escolher novos trilhos que ressoem com o meu projeto de alma.
Imagem principal: Tela: "A Fuga" de Ruth Collaço (inspiração para o artigo)
Ruth Collaço, a autora deste texto