30 Nov
30Nov

Olho a lareira, esta lareira que se gasta no meu olhar! 

Tento escrever alguns versos e não consigo! As lágrimas caem-me e as nuvens despem-me a alma! 

Que penas são estas que esvoaçam na minha mente e dançam na melancolia deste momento?  

Neste palco feito de brasas, as luzes apagam-se e os aplausos emudecem. Há uma cortina feita de fumo urdida no burel da solidão. Sinto-me só e não me encontro! Não sei onde estou! Só sei que estou a ser abraçada por uma profunda tristeza!

 Que tormento é este?  

Que dor é esta presa nos fios das minhas mágoas?  

Quero gritar tantos silêncios, mas a boca cheia de cicatrizes sangra e eu exausta engulo todo o choro para que ninguém o veja! 

Preciso de conforto!  

Mexo e remexo a lareira para que ela aqueça meu coração, mas o frio é insuportável e em cada segundo que passa cresce dentro de mim! 

Levanto-me e olho através da vidraça. 

O céu está deserto.  

Nos meus olhos vejo o mar e a poesia foge-me das entranhas. Uma folha perde-se no vento sem dançar um tango. 

Faltam-me as palavras!  

Sinto que as gastei de tantas vezes as usar! Oh, que sensação tão gélida perto desta fogueira que me queima! 

Que momento!  

Que exílio em plena liberdade!  

Que cela sombria na prisão desta noite, tão cheia de escuridão!  

Que fazer neste tempo de medo e de incerteza?  

Vou escrever um poema! Um poema com o cheiro da terra nua, suspenso na árvore despida que chora para mim! Depois, vou esperar o céu estrelado e embriagar-me com o prateado da lua, se ela subir ao alto da montanha que me chama! 

Não sei se lá voltarei!  

Nem sequer sei, se voltarei a acordar depois de dormir!  

Não sei se esta tristeza me quer levar para onde eu não quero ir!  

Ainda há tanto por fazer! 

Ainda há tanto amor para semear nas silvas das minhas horas! 

Será que o tear do tempo me vai deixar degustar as amoras? 

Fecho o olhar e a lareira apaga-se nos muros para lá do tempo!...

Celeste Almeida: Autora do texto

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