Há que sentir a força das palavras. Algumas provocam tempestades, outras ainda trazem uma brisa fresca como a primavera, acordando quem ainda dorme e aquecendo com um hálito perfumado de esperança, quem acaba de acordar. Por baixo do húmus do dia a dia, brotam sementes, frutos e flores, numa manancial de cores próprios da primavera. Assim se quer cada verso lido e escrito.
Cada palavra que jorra das mãos de um poeta, é um novo dia, um novo acordar, e uma nova hipótese de se pensar e sentir a vida de outro ponto de vista.
Assim o faço, assim o creio.
Ruth Collaço
Autora da tela: Ruth Collaço
Ira dos deuses, em tempos modernos
Déspota em negrume, de manso chegou
Invadindo o sereno, calada da noite
Silêncio em perigo, fronteiras galgou
Aos poucos prendeu, vidas, pulmões
De espada erguida, nas costas maduras
No lombo de jovens, mulheres e crianças
Descia sem dó em brava conquista
E os homens já cegos, seu deus o dinheiro
Taparam os rostos, escondiam verdades
Querendo tapar o sol com a peneira
Diziam ao povo, que o perigo morria
Tempo passou, portas fechadas, olhos vendados
O povo cedia, um manso rebanho na cerca fechado
Vestiu-se de luto a mãe liberdade, chorou, lamentou
Gritavam a Deus "Meu Deus, até quando
livrai-nos da peste, grilhões invisíveis!"
A vida corria, e o gado cerrado e confinado
De manso a aceitou, calado a tudo cedeu
E lá da lonjura, gritavam vitória
Do “vírus” bandido, que tudo mudou
(...)
Clamor
Sosseguem oh deuses, à ira aquietem
Levantem os ventos, limpai nosso rosto
Queimem-se as vendas, o povo acordai
Não deixem que haja, bem morto, bem posto
Que o mar se agite e as ondas rebentem
Que vagas marés, nos varram o mal
Que águas do rio, nos lave a alma
Que brilhe o sol, no seu esplendor
Que o tempo se una, ao céu da esperança
Acordem-nos pois, do vil, do torpor!
Dogoda de Hades
(Heterónimo de Ruth Collaço)
A minha paz, é a minha força.
A minha força, é a minha paz.
Ruth Collaço
Ruth Collaço, a autora destes textos.