16 Mar
16Mar

Arquivo pessoal da autora



Como te apresentas a um estranho?

Percebo. Percebo mesmo que passo muito tempo preocupada com minha aparência. Tento sair de casa minimamente apresentável, decente. Sei que a forma como me apresento diz muito sobre mim, e no meu caso dá até para perceber qual a minha disposição nesse dia. E garanto-vos, que nunca me sinto da mesma maneira. Todos os dias há algo novo que sinto, que penso, que oiço, que dói ...

Não deixem que eu vos confunda, pois acho mesmo que não há mal nenhum nesta atitude, mas... Como me apresento a um estranho?

Que digo eu quando a minha vida cruza caminhos com "o estranho"?

E nisto tenho pensado muito ultimamente. Será a ternura da idade que já me ensinou algumas coisas?

Para me "apresentar" devo conhecer-me, mas conhecer-me mesmo. Sei que uma das razões para as quais estou "cá" é encontrar formas diferentes e significativas de servir ao próximo, e neste momento necessito de agregar toda a minha resiliência sem sequer franzir a testa, sem queixas. Sei que melhorando-me a mim também melhoro o mundo. Não, não é frase feita, nem é egoísmo. Melhorar o "MEU" mundo. O que me rodeia, quem me rodeia e como eu me acerco de quem me rodeia.

Com o tempo, aprendi a olhar para as verdades duras sem hesitar.
Aprendi que não há como mudar as verdades, mas há como lidar com elas. umas enfrento, outras combato. Outras aceito, e outras ainda rejeito. As outras, são as que não entendo, e dessa forma como aceitar?

Eu vivo o meu dia a dia, tropeçando em verdades (as minhas), e dando pontapés a mentiras (as minhas) como se fossem pedras na calçada.
Engraçado as pedras pontapeio de forma instintiva... sem pensar. As Verdades contemplo, como se fosse a olhar para as árvores no meu passeio pela vida...

Que as pedras me sejam cada vez menos comuns e as verdades cada vez mais vivas.

Haja ou não conflito (em mim), haja ou não paz, eu sei que se em vez de pontapear as pedras, as tirar do caminho (do meu e por consequência dos outros) terei mais tempo e oportunidade de ver as arvores, as flores, o céu azul... quem sabe até ouvir o canto dos pássaros?

Porque pontapeando as pedras, é senão voltar a encontrá-las mais à frente, adiar... retiro, arrumo e sigo. E não, não farei castelos, para isso tenho as nuvens.


Ventos Sábios


Sou mulher só e apenas mulher

Sou mulher só e apenas mulher
não corro nem fujo, passo seguro
não temo o destino, escolho meu rumo
exponho arrojada meu peito ao vento
minhas lágrimas, pétalas lanço ao vento
e colho as manhas nos braços cansados
meus olhos percorrem passado e futuro
meus pés caminhantes conhecem poeiras
vidas passadas, amante da vida, guerreira

Não fujo ao destino
não temo o futuro

Meus lábios já deram mil beijos sagrados
Meu corpo já teve noites profanas
Sou livre de ser não sendo o que sou
E sou o que quero, se livre eu estou
Eu vivo de amarras que fazem sonhar
E solto o meu grito, muda trovoada
De punhos erguidos, danço e defendo
A paz que eu quero, direito que é meu
Não largo nem cedo cá dentro de mim

Não fujo ao destino
não temo o futuro

Se tua me queres, conhece os meus erros
Aceita que sou mulher inconstante
Nos ventos encontro eu quero voar
Aceita também minha forma constante
De ser e amar, quem já me feriu
Descobre minha dor e a chave te dou
Palavra secreta ao tesouro que sou
Sou mulher e vida, mas não sou perfeita
perfeita eu me faço quando imperfeita
.…
Não,
Não fujo ao destino
não temo o futuro
não vivo na sombra
não aceito migalhas

Maria do Vento
(29-03-2022)


Ruth Collaço, a autora do texto e da poesia.



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