Tempestade Ana... tempestade Ana...
Gosto de andar em contacto directo com a natureza. Sempre que o tempo me permite, caminho entre montes e vales, rios e corgos, e desfruto das paisagens deslumbrantes que me deliciam. Passo a passo, parto à descoberta e procuro sempre alguma história de momento.

Tudo me fascina. Hoje, durante alguns minutos, observei um bando de corvos, animais necrófagos, à volta de um gatinho morto que estava à beira da estrada. Enquanto os olhava, lembrei que na mitologia Grega, esta ave foi consagrada a Apolo, deus da luz do sol e, que para os gregos, tinha funções proféticas.
- Como pode esta ave simbolizar a luz para os gregos, se para nós, são os mensageiros da morte, sendo, até o diabo retratado na figura do corvo?! -interrogava-me, enquanto os via a lutar por mais um naco de carne.
Mais adiante, encontro o Tio Zé Augusto e sua mulher, a tia Fátima. Tinham acabado de carregar o carroço do tractor com erva. É certo, que se eu gosto de conversar com todas as pessoas que encontro, também é verdade, que mal se apercebem de mim, já se preparam para ouvir minhas palavras.
- Boa tarde! Apanhar erva para os animais? E que 'tenrinha' ela está!
- Boa tarde, professora! Tem que ser. As cabritas e o porco têm que comer!- respondeu a tia Fátima.
- E a chuva que caiu, já fez bem ao lameiro?
- Se fez, se fez! A chuva que caiu, foi ouro! Ou a senhora pensa, que nós andaríamos aqui, se não tivesse caído aquela chuva?! Nem pense...não haveria cá erva nenhuma, pode acreditar! - acrescentou o tio Zé Augusto.
- Então, essa tempestade Ana, só veio fazer bem!
- Tempestade Ana...tempestade Ana...qual tempestade, professora? Olhe que eu lembro-me muito bem, de ver estes campos todos inundados de água! A água chegava lá acima aquelas casas...mal de nós, se a chuva não vem com mais força...então será um ano de fome. Veja as levadas...estão secas...nem uma gota de água corre nas levadas! - explicou o tio Zé Augusto estes fenómenos climatéricos com sabedoria.
- Professora, veja bem! Nós andamos aqui no lameiro e não vê nossos pés enterrarem-se, pois não? Tem que chover muito mais! A água tem que alagar os campos! No dia que nós aqui viermos e nossos pés se enterrarem, então sim...já poderemos dizer que a chuva vai fazer rebentar as nascentes...enquanto isso não acontecer, que Deus envie muita chuva, pois bem precisamos dela. Olhe eu andei a semear um cebolo, para plantar em maio e bem vi como está a terra! - disse a tia Fátima.
Se gosto de caminhar ao encontro da natureza? Sim, gosto demasiado, mas o que me guia os passos, é a simplicidade com que as pessoas se me dão...a mesma simplicidade com que eu me dou a elas.
Assim, se criam laços de afetos que me amarram a este Povo que tanto admiro e respeito.
Continua...