O senhor Ramiro de Mosteirô é um pouco de tudo, tal como ele diz. Resineiro, madeireiro, pastor, agricultor.
Hoje, trago-vos o senhor Ramiro Resineiro, não fosse eu também filha de um grande resineiro! Assim, revivi uma Arte que sempre esteve presente na minha criação.
- Senhor Ramiro, quantos anos são precisos, para que um pinheiro possa ser resinado?
- Uns nove ou dez anos, professora.
- Atingindo essa idade, qual o primeiro ato a fazer?
-Fazem-se cortes, ou estrias no tronco, retirando a corcódea, por onde escorre a resina. Esses cortes depois de uns quinze dias, secam. É como uma ferida que sangra, mas depois deixa de deitar seiva. Assim sendo, fazem-se novos cortes, para que o pinheiro possa expelir toda a substância.
- Essa seiva que corre no tronco é apanhada, hoje, com sacos plásticos, mas eu recordo-me dos púcaros de barro e de plástico, no tempo do meu falecido Pai.
Qual a vantagem dos sacos de plástico, senhor Ramiro?
- A vantagem? Torna-se mais rápida a coleta. Não precisamos das colhedeiras e nem das latas que elas enchiam. Os sacos vão direitinhos para os barris, bidões ou tambores.
- Depois, é só seguir viagem até à fábrica, não é verdade?
- Sim, na camioneta ou camião, a carga dos barris só pára na fábrica. Lá, passa por processos de limpeza e purificação, para depois ser destilada. Separa-se o breu, que é a parte sólida da terebintina, esta, a parte líquida.
- Senhor Ramiro, entre os anos 20 e os anos 70, a extração da resina, ( Pinus Pinaster) era considerado uma fonte de enriquecimento. Hoje, China e Brasil, os maiores produtores mundiais, fizeram com que este trabalho, em Portugal, diminuísse. Haverá, além desta razão, mais alguma relevante?
- Olhe, minha senhora, os fogos florestais, a falta de mão de obra, são outros factores que condicionam a extração desta substância, que já foi ouro no nosso país, em outros tempos. Hoje, é um remedeio. Pouco lucro dá, atendendo ao muito trabalho que exige.
- Sabe, senhor Ramiro, a saudade aperta-me, teremos que parar por aqui. Como sabe, meu querido Pai, que Deus o tenha, foi um Homem que cantava nos pinhais, com seus trabalhadores, as tristezas e sacrifícios de uma época. Que voz, ele tinha! Era gosto ouvi-lo! Com ele não havia tristezas, mesmo carregado delas. Com a extração da resina, educou os seus oito filhos, de forma nobre, pois os VALORES MORAIS eram o pão que punha na mesa todos os dias.
