Póvoa do Montemuro nunca foi uma aldeia muito castigada pela fome

A grande extensão de montes comunitários dava sustento, não só para o gado, mas também para os rebanhos transumantes.
O "Moiral" Jorge Cardoso conhecia a Serra como ninguém!
Não havia canada (atalho), que ele não calcorreasse com os pastores, para os conduzir às pastagens.
Mas, antes de falar da "viagem", assim era denominada na época a Transumância, deslocação periódica dos rebanhos pelos pastores vindos das fraldas da serra da Estrela, permitam-me que fale de um outro ritual...
O dia de "abrir a serra" na aldeia da Póvoa do Montemuro
Todos os anos, no primeiro domingo de junho, já com todas as vessadas feitas (terra que se lavra num dia, com uma junta de bois, antes da semeadura), o pegureiro (pastor) tocava o sino da capela logo ao amanhecer.
Estava na hora de juntar o rebanho e as vacas para subirem aos montes verdejantes.

A serra estava aberta.
Era uma alegria.
A aldeia enchia-se de música, de cor e movimento.
Não havia pastor que não enfeitasse os seus animais. As vacas levavam ao pescoço uma coleira cheia de campainhas e os rebanhos todos enfeitados, levavam enormes chocalhos.

Alguns eram tão grandes que arrastavam no chão.
Subirem às alturas da serra, logo pela manhã, com o orvalho a lavar-lhes a cara, poderia ser um trabalho duro, mas o prazer que os pastores sentiam faz recordar este ritual com imensas saudades.
