As mulheres renascentistas ganharam neste domínio alguma liberdade, sobretudo no que respeita à aristocracia burguesa e passaram a vestir-se com roupas luxuosas e bem aparentadas, com vestidos compridos e volumosos, com o predomínio de cores vivas (amarelo, azul, roxo e tons avermelhados), com cintura torneada e uso de espartilho (uma espécie de colete). Usavam vestidos de veludo e de seda ornamentados e decorados com rendas e com objetos de ouro e prata. Nalguns ambientes e meios mais liberais começaram a exibir os peitos volumosos e pintados com rouge.

Passaram, por exemplo, a ser retratadas e pintadas (em telas e nas igrejas) pelos grandes artistas da época, como Leonardo da Vinci e Sandro Boticcelli, com a mesma intensidade que a figura do homem. Passaram a estar muito presentes na vida quotidiana dos homens. Apesar disso, continuaram muito submetidas à autoridade do pai e do marido.

Na época renascentista as mulheres aristocráticas/burguesas tratavam bem dos cabelos. Algumas vezes pintavam-nos e ornamentavam-nos com peças decorativas.

Também se preocupavam com a qualidade e aspeto da pele. Usavam clara de ovo e vinagre para amaciar e aclarar a pele e já usavam maquilhagens, mas grande parte destas benesses não estavam ao alcance das mulheres do povo. Estas vestiam roupas simples e rústicas, feitas pelas próprias com tecidos vulgares e remendados e pouco variadas nas suas formas. Eram roupas que refletiam as rotinas do seu dia-a-dia, a dependência do homem e alguma tristeza.

As roupas eram empoeiradas, não eram lavadas. Nos meios aristocráticos as roupas das senhoras eram frequentemente sacudidas e borrifadas com perfumes. Embora, segundo alguns escritos, lavassem as mãos apenas de três em três dias. Nos dias de hoje tal prática seria impensável e dificilmente resistiriam à pandemia do Covid 19.

Pese embora todas as dificuldades e debilidades retratadas a mulher renascentista foi conquistando alguns direitos. Conquistou, por exemplo, o direito de discutir com o marido assuntos relacionados com a arte, a literatura e a filosofia e conquistaram também algumas oportunidades na área social.

A mulher aristocrática passou, por exemplo, a evidenciar a sua inteligência e riqueza e a deter princípios de moralidade, beleza, aparência e comportamentos apropriados ou exemplares. Passou a aprender línguas, sobretudo o latim, o grego e o francês e já conseguia manter conversas chiques e eruditas, passou a presidir a festas e a tocar e a dançar.

Desta forma se percebe que a mulher renascentista ganhou espaço na sociedade e elevou a condição de mulher.

Francesco Petrarca viveu em Itália, no século XIV. Era poeta e nos seus versos cantava o “amorideal”, poemas líricos de amor e paixão, em contemplação espiritual da amada. Enfatizava as contradições do amor, que geravam sofrimento e prazer, esperança e desespero, alegria e tristeza, convívio e solidão. A mulher amada renascentista representava um ideal de beleza e perfeição.

As telas dos pintores da Itália renascentista respiravam ideais de beleza, serenidade e leveza, espiritualidade e perfeição.

Uma das principais características deste período foi o resgate das ideias clássicas. Durante o período renascentista ocorreram inúmeras transformações no mundo, sobretudo no plano das ideias, mas também transformações económicas, sociais, culturais e científicas, desde a transição do feudalismo para o mercantilismo, até à passagem da teologia para o humanismo.

A par do salto e do enquadramento socio cultural permitido à mulher renascentista, a filosofia do renascimento veio resgatar o pensamento filosófico da antiguidade clássica, o esplendor que o período grego de outrora trouxe à filosofia, a valorização da razão, a genialidade do indivíduo. A mitologia grega já destacava fortemente a presença das mulheres através das figuras das Deusas Artemis, Atena, Afrodite, Deméter, Hera, Perséfone, Pandora e Gaia. Embora a inteligência e o pensamento sejam representados pela Deusa Minerva (nome latino de Atena), que nasce não do corpo da mãe mas da cabeça de Zeus, seu pai, o que demonstra uma imperdoável desvalorização da mulher desde o início.

 

Publicado em
23/10/2020
na categoria
Caminhos na História
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Daniela Silva

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