O Picão e a Picoa esculpidas na dureza do granito são dois antropomorfos, que segundo a lenda foram esculpidos pela senhora Angelina de Sousa e seu irmão senhor Aleixo de Sousa.

Eram os únicos habitantes desta colina, até ao dia em que a "vila" de Bugalhão foi destruída por um ataque de formigas brancas.

O povo chamou-lhe a peste negra.

Os sobreviventes desta epidemia fugiram à procura de um lugar mais cimeiro.

Com muita água e bons ares, fixaram-se na colina chamada Picão.

Tal como a terra fértil, as famílias reproduziram-se e o povo foi crescendo.

Os séculos passaram, os ventos varreram o pó nas montanhas dos corpos incertos, que deram "vida" a estes antropomorfos.

O Picão jaz deitado no leito duro e a Picoa, à janela, vai olhando na eternidade o único amor da sua vida. Ambos guardam segredos indecifráveis da origem da aldeia de Picão!

Que escrevem eles nas suas memórias ancestrais?

Que escondem nas suas rugas dos tempos antanhos?

Porque estão separados, cada um na sua casa ?

Sendo eles irmãos e vivendo, outrora, debaixo do mesmo teto, porque razão a mão do homem lhes cortou o cordão umbilical? ...

Porque a mão do homem, outras casas construiu e utilizou suas "sepulturas" que o tempo tinha destruído!

Foi pena, não ficarem nas paredes da mesma casa, pois tenho certeza, que estariam mais felizes!

Assim, resta-lhes o conforto de se poderem olhar nas longas horas de silêncio!...

O Picão e a Picoa, segundo a lenda, estão na origem desta linda aldeia no cimo da colina para onde fugiram os habitantes de Bugalhão, aquando uma densa nuvem de formigas os atacou e destruiu todas as suas culturas!

Salvaram-se aqueles, que tiveram pernas para subir o trilho íngreme que os levou para junto do Picão e da Picoa.

Assim, cresceu este povoado que respira o ar puro da serra e ouve os silêncios que jazem na aldeia sem vida de Bugalhão.

No trilho, entre Bugalhão e Picão, dorme no altar da capelinha São Mamede que guarda muitas memórias do tempo da fome, que levou tantas mães pedir ao Santo leite nas suas mamas para amamentarem seus filhos.

O Santo peregrino nos montes solitários, guarda todas as cicatrizes no seu corpo, pois, cada mãe que lhe pedia ajuda, lascava um pedacinho da sua "carne" para comer.

Só assim, o leite jorrava das mamas e matava a fome aos filhinhos.

A fome, que a própria fome semeava nas searas sem espigas da serra.

Publicado em
30/9/2021
na categoria
Caminhos na História
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Celeste Almeida

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